João Pedro Bernardes , 2018: Martinhal, Figlinae Hispanae, https://figlinaehispanae.icac.cat/yacimiento/martinhal/
DOI: https://doi.org/10.51417/figlinae_034
O sítio romano do Martinhal localiza-se na freguesia de Sagres, concelho de Vila do Bispo, imediatamente a leste da praia do Martinhal. Situa-se sobre a arriba que se estende desde àquela praia até à praia dos Rebolinhos. Nas últimas décadas a linha de costa tem recuado muito devido à erosão, o que levou ao aparecimento e destruição dos fornos identificados no corte da arriba.
O sítio é já referenciado por Estácio da Veiga que, em 1877, faz alusão a abundantes fragmentos cerâmicos que então se viam na praia do Martinhal, para além de uma cisterna e um provável “edifício de banhos” (Veiga 1910: 211). Saavedra Machado (1969: 345), em 1969, refere-se, por sua vez, a restos de mosaico encontrados no sítio. Em 1971, Fernando de Almeida, G. Zbyszewski e O.V. Ferreira (1971: 157, 159) especificam, claramente, que este sítio seria um centro oleiro, assinalando dois fornos em Sagres, sendo pelo menos um no Martinhal ou Murtinhal. No mesmo ano, Maria Luísa Santos, visitando o sítio e baseada em notícias anteriores, sobretudo do seu bisavô Estácio da Veiga, confirma aquelas informações, apresentando uma planta esquemática e fotografias das estruturas da cisterna que então assomavam à superfície (Santos, 1971: 70-71). A partir de então multiplicam-se as referências ao sítio, mas sem acrescentar nada de significativo às informações dadas nas notícias citadas.
O constante recuo da arriba levou a que se efetuassem ali três campanhas de trabalhos arqueológicos nos verões de 1987, 1988 e 1989, a fim de identificar e caracterizar um conjunto de estruturas que o recuo da arriba pôs a descoberto. O local passa a ser conhecido com algum detalhe a partir das intervenções de 1987, coordenadas por Carlos Tavares da Silva e J. Neville Ashworth, e de 1988 dirigidas por Carlos Tavares da Silva, Virgílio Hipólito Correia e Nicholas Whitehead. Estas duas campanhas dariam lugar a um artigo que caracteriza relativamente bem as produções anfóricas e estruturas a elas associadas, uma vez que os trabalhos incidiram, fundamentalmente, na arriba onde assomavam alguns fornos, tendo sido escavados dois deles, um outro apenas parcialmente e identificado ainda um quarto (Silva, Soares e Correia, 1990). Nicholas Whitehead, tendo como co-responsável Teresa Júdice Gamito, efetuou nova campanha em 1989, identificando mais um forno e abrindo várias sondagens distribuídas pela área da officina do sítio arqueológico, situado atrás da arriba onde se localizavam os fornos, nomeadamente junto à cisterna. No verão de 2006, João Pedro Bernardes dirige nova campanha no local destinada quer a identificar os novos fornos que o recuo da arriba colocou à vista, quer a caracterizar de forma global o sítio (Bernardes, 2008a). Nesta campanha foram registados quatro novos fornos, um deles de telhas integrado na parte oeste do grande edifício da oficina e parcialmente escavado. Em 2008, no âmbito de medidas de minimização de impactes levadas a cabo pela empresa Palimpsesto, foram escavadas duas pequenas cetárias situada a poente daquele edifício da olaria (Ramos, Ferreira e Nunes, 2010). Em setembro desse mesmo ano foram efetuadas prospeções geomagnéticas sem resultados concludentes, certamente devido ao enorme ruído provocado pelos cinzeiros e entulheiras distribuídas pelo sítio. O recuo da arriba no Inverno de 2010 colocou à vista mais um forno de ânforas que terá produzido complementarmente cerâmica doméstica, o que eleva para dez o número total de fornos conhecidos até ao momento no local. No ano seguinte este forno é parcialmente escavado e o grande edifício da olaria é finalmente definido apresentando-se com uma dimensão de 42 metros de comprimento por 11 de largura (Bernardes et al., 2013). Atualmente (2018), com a continuação do recuo da arriba, já só existem vestígios de alguns destes fornos que totalizam 9 exemplares dedicados à produção de ânforas, para além do que se situa mais recuado destinado à produção de telhas.